segunda-feira, novembro 21, 2005

Biofilía - um novo conceito

Pode o Homem ser plenamente realizado num mundo separado da natureza, cercado por artefactos e empreitadas culturais, encerrado em redutos electrónicos, nos quais grande parte da realidade lhe chega pelo televisor ou computador? esta é a questão a que a teoria da biofilía tenta responder, como sendo uma força que afecta a forma como o Homem reage aos outros organismos vivos, é a afinidade do Homem, com o mundo natural, sendo descrita por Wilson (1986, 3, 5) "innate tendency to focus on life and lifelike processes [...] that the essence of our humanity, the expansive freedom the mind seeks, is inextricably linked with the green enclaves of this planet”. Willson (1986) analisa a necessidade que o Homem tem para centrar a vida natural como uma tendência básica, integrante do desenvolvimento equilibrado do indivíduo, defende que a espécie humana, não é a mais importante, nem a única que interessa, as bactérias, os fungos, os protozoários e as plantas surgiram no mundo muito antes do Homo Sapiens e a humanidade depende destes organismos e dos cuidados com os recursos naturais, se quiser manter-se vivo. Boff (2001, 9) aproxima-se também da teoria da biofilía quando refere que “hoje nos encontramos numa fase nova da humanidade. Todos estamos regressando à casa comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas, a natureza e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente (...)”, esta teoria da biofilía, providencia um poderoso argumento para a conservação da biodiversidade, implicando sérias consequências para o bem estar da sociedade urbana, que cada vez mais se afasta do mundo natural. Isto aplica-se a um vasto espectro de relacionamentos do Homem com a natureza, esta interacção traz importantes consequências, para uma vasta gama de características humanas, inclusive as intelectuais, as emocionais, as espirituais e as estéticas. Alguns autores que aderiram a esta teoria, vêem-na como um novo e vigoroso argumento, para conservar a natureza e para recolocar o máximo possível dela nos ambientes urbanos. Defendem que o Homem começa a reaprender e a apreciar os espaços naturais agradáveis, a convivência com a água e árvores em locais públicos urbanos. A biofilía é importante para a mente humana, dizem Wilson e Kellert (1995), pois a plena expressão da biofilía, depende da intensidade com que as pessoas tiveram contacto com a natureza na sua juventude. Nos grandes centros urbanos, essa falta de contacto inicial pode levar à indiferença e até à hostilidade para com o meio ambiente. Por outro lado existem opiniões, que não concordam com esta teoria e referem que isto é apenas um argumento para voltar ao contacto com a natureza e repudiar a moderna sociedade urbana em desenvolvimento.
Wilson (1986) defende também que a biofilía poderá ter uma componente genética e ancestral: as pessoas desenvolvem fobias mais rapidamente às cobras e aranhas do que a artefactos ameaçadores como facas e pistolas. O medo e as fobias, assim como o gosto e o prazer, desenvolvem-se rapidamente, através de um pequeno reforço negativo ou positivo, por exemplo: as serpentes suscitam fascinação e admiração a uns e medo a outros. O medo também pode desempenhar uma função importante, ao activar reacções de autodefesa no ser humano, estas situações trazem consigo emoções positivas ou negativas. Wilson (1986)engloba todas estas emoções na biofilía, porque considera que esta é a matriz na qual a mente humana teve origem e na qual está permanentemente enraizada. Ao separarem o Homem do meio natural que o rodeia, argumentam, Wilson e Kellert (1995) surgirá um Homem psicologicamente mais pobre. Parafraseando Wilson (1986, 6) “Man whether he likes it or not, is tied to this planet and its life force”. O termo foi utilizado no homónimo, escrito por Edward O. Wilson em 1984, biólogo que adopta a teoria da evolução.
Mais recentemente surgiu The Biophilia Hypothesis, uma colectânea de ensaios editada por Wilson, da Universidade Harvard, e por Stephen R. Kellert, da Universidade Yale. Nela um bom número de cientistas tenta expor a questão com mais detalhe e exibir todas as provas existentes.

7 Comments:

Blogger Cidalia said...

Falas aí, no teu post, a determinada altura, (acho que é o Wilson) que o homem não é a espécie mais importante, nem a única que interessa....Talvez esteja a ser egoísta da minha parte, no que diz respeito a minha espécie mas....acho que é a espécie mais importante porque senão.... para que existiria este mundo pensante? Para que existir espécies com capacidade de comunicar através de posts?

1:36 da manhã  
Blogger Ana Isabel Godinho said...

Então Cidália só és melhor que um gorila ou que um briófito porque consegues escrever um post num blog? Isso nem parece teu, uma Pós--Graduada em Educação Ambiental!!
Esta "espécie pensante" tem a capacidade (ou deveria ter)para não destruir os outros, protegê-los e preservá-los, para o próprio bem dessa mesma "espécie pensante"!
Pensa nisso!

Ana Isabel

1:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Claro que somos melhores!!!! Já viste um gorila ou briofito a fazer Mestrado?

2:34 da tarde  
Blogger Desambientado said...

A pulverização e dispersão dos empregos, dos bens e serviços e dos espaços recreativos nas grandes cidades, é um problema civilizacional, já sentido na década de 60, na perspectiva de continuarmos a construir verdadeiras comunidades, como o tínhamos feito até então. Essa dispersão, pulverização e complexidade do espaço urbano diminui o acesso ao emprego, à confraternização, à recreação, aos bens e serviços, e por outro lado implementa, a complexidade dos itinerários, a perda de tempo exagerada nos meios de transporte, a perda de identidade cultural e a descaracterização das construções urbanas, para além da destruição de habitates naturais. Não nos terão esses comportamentos afastado da biofilia?

9:34 da manhã  
Blogger Ana Isabel Godinho said...

Claro que sim Dr. Félix!
Mas cada vez mais se nota a ncessidade do Homem "regressar às origens", ou seja ao contacto com a natureza, a casa na terra dos pais, a compra de uma segunda casa fora da cidade, a necessidade de criar espaços verdes nas urbanizações(nem que seja em terraços!), ter a salsa e a hortelã em vasos no 5º andar, a existencia no mercado, cada vez maior, de cd's com sons da natureza (passarinhos, água a correr etc) para relaxamento .....
Tudo isso e outros indicios revelam a necessidade que o Homem tem, do que lhe foi sendo subtraído desde há alguns anos ... o contacto com a natureza, o bem estar que ela proporciona e a cultura de origem que é raíz da nossa identidade.
Então deixemos a nossa biofilia desaborochar! Talvez assim o Homem entenda a necessidade de preservar o ambiente!

Ana Isabel

12:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Homem começa a perceber a necessidade de estar em contacto com a natureza, tirar partido dela sem a danificar. É um regressar ao passado, às origens, onde tudo o que é tradicional, biológico é bom! Agora coloco eu uma questão:Será que estamos a ficar mais conscientes das nossas atitudes, ou simplesmenteé uma questão de moda? Será que o ambiente está na moda?!
Carla

7:57 da manhã  
Blogger Ana Isabel Godinho said...

Boa questão! O ambiente está na moda? Será que é moda ou ou necessidade? Talvez ambos!
A certeza que temos é que os recursos naturais estão a diminuir e a população a aumentar exponencialmente.
O desenvolvimento económico das sociedades industriais conduziu também a mudanças gradativas nos valores e atitudes das pessoas, por exemplo à medida que as necessidades básicas dos indivíduos, pertencentes às sociedades económica e socialmente mais desenvolvidas vão sendo satisfeitas, eles começam a pretender qualidade de vida e a qualidade ambiental é um deles.
Volto a questionar: Será moda ou necessidade? Eu acredito que é a segunda!

Ana Isabel

2:55 da tarde  

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